top of page
Buscar

O que Zumbi acharia disso?

Atualizado: há 5 dias


ree

Preocupado com os possíveis destinos da Segunda Abolição, Zumbi resolveu intervir na situação dos negros após a Primeira Abolição, até mesmo porque a crise de lideranças cada vez mais aumentava. Olhou para Ganga Zumba, que continuava a se refestelar com os resultados dos seus acordos em vida, e foi-lhe indagar se tinha alguma contribuição para apresentar face à crise geral de consciência do Movimento Negro. A resposta de Ganga Zumba foi, como sempre, alegre e evasiva: faça multiplicar os campeonatos de futebol, as escolinhas de futebol estatais, com mais craques, e os negros terão mais oportunidades, mais jogadores consagrados, mais sucessos, miscigenação, maior distribuição de renda. Zumbi agradeceu a colaboração e deixou de lado aquela velha opinião formada sobre tudo.


Repensando a questão, Zumbi via o tempo não parar de correr. À medida que este passava tão rapidamente, temia que a desgraça se repetisse: muito cacique, pouco índio – para a maioria de nossos negros e brancos pobres. Andou por todo lado, visitou instituições financeiras e não encontrou remuneração parcial para seu parco capital que ainda precisaria ser efetivado mediante muito trabalho nas minas recônditas, as quais sabia onde estavam. Foi até a Faria Lima e, fora atividades ilegais, não encontrou nada de grande interesse. Aprendeu que precisava de um fundo de investimentos certo, com ganho assegurado, muito lucrativo. Mas qual? As melhores oportunidades já pareciam preenchidas. E, duzentos anos depois de sua morte, não quer entrar em novas guerras; já confiava demais no ser humano.


Depois de encontrar novos planos, programas e projetos, viu que deles não entendia nada, pois não conseguia entender um projeto que contemplasse os afrodescendentes e brancos pobres e lhes trouxesse alguma reparação e indenização sobre o período escravista e que, após minimamente consumado, lhes reservasse a melhoria do status quo que se tornaria seu seguro social.


Sua inspiração revolucionária lhe alertou que poderia formular um projeto geral, que teria doses de autoritarismo, forçosamente. Pediu auxílio aos socialistas, sendo ouvido e nada escutado, ainda que recebesse muitas felicitações.


Voltou-se um pouco para a própria história. Lembrou-se que o êxito conseguido se deu quando levou adiante suas próprias ideias. Sempre refletindo muito, lembrou-se dos pobres camponeses que forneciam aos quilombos. Por fim, decidiu que a Faria Lima não poderia ter razão e esboçou um grosseiro projeto, o qual submeteria aos afrobrasileiros, em várias consultas, em várias ocasiões. Mediante uma democracia real, mediante sua aprovação, iríamos às pressões sociais.


Considerando os primeiríssimos cálculos, alcançaríamos, em 2088, um fundo de ordem de US$ 600 trilhões para 200 milhões de afrobrasileiros. Considerando ainda que 50% deste valor poderia não ser redistribuído de imediato, os US$ 300 trilhões restantes teriam um período de carência (para o status quo), podendo ser um gorduroso fundo de reserva que seria utilizado oportunamente.


É claro que isso tudo são os esboços, os fundamentos de uma proposta para edificar uma Segunda Abolição, que fosse distinta da que temos hoje, na qual a maioria da população brasileira enfrenta a pobreza, a miséria, a ignorância, a doença, a fome, a falta de consciência crítica e de dignidade social, além da ausência de respeito.

 
 
 
bottom of page